Novos estudos reforçam consenso de que Terra está mais quente
REINALDO
JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
Duas pesquisas recentes reafirmam o consenso
científico em torno da realidade do aquecimento global, embora também mostrem
as incertezas do fenômeno.
A primeira, coordenada pelo físico Richard Muller,
da Universidade da Califórnia em Berkeley, foi divulgado numa conferência nos
EUA e aguarda para ser publicado.
Mas já
ganhou relevância porque, até o mês passado, Muller era um cético do clima.
Para ele, os dados usados para mostrar que o planeta está aquecendo não eram
confiáveis.
Decidido
a colocar o consenso climático à prova, Muller organizou um estudo, o Best
(sigla inglesa de "projeto Berkeley sobre a Temperatura da Superfície
Terrestre").
A
pesquisa recebeu parte de seu financiamento da fundação Charles Koch, ligada à
indústria do petróleo e responsável por bancar outros céticos climáticos e
políticos conservadores nos EUA.
Em artigo
no "Wall Street Journal", um dos poucos grandes jornais em que a
comunidade de céticos climáticos ainda tem voz, Muller explica o porquê de suas
dúvidas iniciais sobre o aquecimento global: dados porcos.
O xis do
problema são as estações meteorológicas, principais responsáveis por recolher
dados de temperatura e criar uma série histórica capaz de dizer se, afinal, o
planeta está mais quente.
Seguindo
os dados obtidos por essas estações, o IPCC, painel do clima da ONU, estima que
a temperatura média da Terra subiu 0,64 grau Celsius nos últimos 50 anos.
Só que há
um problema, escreve Muller: 70% dessas estações nos EUA possuem uma margem de
erro superior a essa variação.
Além disso, grande parte das medições de temperatura é feita em áreas urbanas, que ficaram mais quentes com asfalto, calçadas e concentração de prédios.
Além disso, grande parte das medições de temperatura é feita em áreas urbanas, que ficaram mais quentes com asfalto, calçadas e concentração de prédios.
Muller
explica que a equipe do estudo Best usou uma série de controles experimentais
para contornar esses vieses. Primeiro, eles usaram uma massa maior de registros
do que as pesquisas tradicionais sobre o tema.
Resultado:
de quase 40 mil estações medidoras de temperatura mundo afora, dois terços
mostraram sinais de aquecimento.
Além
disso, eles trabalharam com dados de satélite para levantar as tendências de
temperatura apenas nas estações de medição em áreas rurais, e não houve
diferença em relação às mais urbanas.
E a
magnitude do aquecimento é comparável tanto nas estações de boa qualidade
quanto nas que trazem dados mais incertos.
"Embora
as estações de baixa qualidade tragam temperaturas incorretas, elas ainda assim
seguem as mudanças de temperatura", afirma.
INCERTEZAS
Muller e
colegas, porém, não investigaram as causas do aquecimento nem o que acontecerá
daqui para a frente. Nesse último ponto, uma pesquisa publicada recentemente na
revista científica "Journal of Geophysical Research" mostra que os
cientistas ainda terão muito trabalho pela frente.
Julia
Crook e Piers Forster, da Universidade de Leeds (Reino Unido), fizeram uma
análise detalhada dos modelos climáticos, as simulações por computador que
servem para prever o futuro do clima.
O jeito
tradicional de verificar se esses modelos são úteis é tentar ver se eles
reproduzem o que ocorreu com o clima no século 20.
Eles
conseguem isso, dizem os pesquisadores, mas de um jeito que não depende da
força dos feedbacks positivos do clima, ou seja, da maneira como mudanças
atuais amplificam o aquecimento futuro. Por exemplo: derreter gelo no Ártico
torna a região mais escura. Com isso, ela absorve mais luz solar e esquenta
ainda mais.
Por causa
disso, é provável que nenhum modelo atual seja capaz de capturar como será o
clima do futuro.
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